Agnieszka Holland é polonesa (nasceu em Varsóvia), tem raízes judaicas, mas foi criada no catolicismo. Agnieszka Holland é uma diretora de temas sociais fortes, uma mulher preocupada com jogadas maldosas e que faz um cinema que tem chamado atenção na Europa e América. Filmes como Olivier, Olivier, Complô Contra a Liberdade, Filhos da Guerra e O Jardim Secreto, a levaram a terrenos internacionais e a transformaram em uma das cineastas mais importantes da Polônia.
Seu mais recente filme, Na Escuridão (W Ciemności, 2012), novamente relata suas preocupações humanas e nacionais. A diretora fez um filme baseado em histórias reais e recriou as vicissitudes de Leopold Socha (Robert Wieckiewicz), residente de Lvov, a terceira comunidade judaica mais importante da Polônia nos tempos anteriores à Segunda Guerra Mundial, e de um grupo de judeus que ficou sob sua proteção. Socha era funcionário público e trabalhava no esgoto da cidade. Em 1941, a cidade se transformou em um gueto, e logo os judeus começaram a ser eliminados e levados a campos de concentração, mas Socha começou a resgatá-los e escondê-los, claro, nos esgotos. O drama das famílias ali escondidas, o medo constante de serem descobertas, a possibilidade de que a qualquer momento Socha poderá traí-las, está tudo no filme. E a tudo isso se soma a escuridão dos esgotos, o mau cheiro sufocante, os ratos, as dificuldades para comer, as relações muito próximas e tensas entre eles, e até mesmo uma gravidez.
Então qual é a verdadeira escuridão? A escuridão que os protege do que está fora, ocupando a cidade? Também vemos o que acontece lá fora. Socha caminha pela cidade, entra em lugares onde deve lidar com os alemães e com os próprios poloneses aliados ao nazismo. Sua situação não é fácil, é um funcionário público, deve estar a serviço dos novos chefes. Socha está apenas interessado nas joias? Quando as joias acabarem, vai deixar seu lado obscuro aflorar? A escuridão dos outros é um vírus? Contamina, entra na pele, mata a alma e faz infeliz? Em contraste, a escuridão das vítimas é um ventre escuro, de renascimento e iniciação, um lugar de onde surge a luz definitiva.
Assim, entre a escuridão luminosa do escondido e a verdadeira escuridão exterior caminha este filme, com a sábia arte de Holland, que sabe criar tensão em filmes de entretenimento e ao mesmo tempo dramas profundos, dolorosos e preocupantes, típicos de cinema de autor.
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