QUANDO VOCÊ VIU SEU PAI PELA ÚLTIMA VEZ?

A relação entre pai e filho nem sempre é digna de assim ser referida. A procura por um vão maior entre o jovem e a figura paterna muitas vezes se dá pelas tentativas mal pensadas do progenitor de justamente se aproximar do filho, o que extingue a confiança. Quando Você Viu seu Pai pela Última Vez? (2007) é uma proposta cativante para desenvolver ao longo de uma narrativa picotada por flashbacks o afeto entre dois homens num intervalo de dias que corresponderá por toda uma vida passada bem próximos geograficamente e distantes no que tange as suas relações.

Blake Morrison (Colin Firth) é um premiado escritor que jamais teve o apoio do pai, Arthur, em suas decisões mais importantes. Sendo perseguido durante toda a juventude pelo fascínio paterno para que cursasse medicina, Blake, quando jovem, resolve observar os defeitos e atitudes daquele de quem um dia tanto se orgulhou, mas passaria a tomar desprezo a julgar pelas falhas que, para ele, se mostram exemplos de desvio de caráter. Mas anos depois, quando o pai é diagnosticado com um câncer fatal, Blake revê todo o passado ao lado daquele que o ajudou a se criar, buscando argumentos que explicassem o motivo de tanto afastamento e saídas para enfim perdoá-lo.
Abrilhantado pela direção de Anand Tucker, o filme se entrega a excelente atuação de Jim Broadbent, que consegue manter uma química familiar com todo o elenco, inclusive com o adolescente Blake (Matthew Beard), um alguém que repassa todo o desgosto e decepção sentidos mesmo sem ser um primor em atuação. O elenco muito engendrado evolui facilmente na trajetória do roteiro que a toda hora regressa anos para conectar o presente com o passado, ambos se complementando e formando uma única linha na trama.
O destaque está para a ausência de um roteiro que prioriza a força significativa das falas e se retém aos atos e imagens que contam muito mais do que qualquer frase proferida pelos personagens. O longa distrai o espectador nas divertidas e conturbadas passagens da adolescência de Blake, que por vezes são exponencialmente agravadas pela presença do pai, ao passo que prolonga a emoção nos momentos de sofrimento dos dois no processo de entrega de Arthur à morte.
Mas as respostas que Blake mais almejava obter vão demais além das descobertas da adolescência e se estenderam até o homem formado que é hoje: quem é, essencialmente, seu pai? O que o levou a trair, mentir e muitas vezes a se posicionar contra as tomadas do filho, como um muro de proteção entre ele e os sonhos? Repleto de amargura e insegurança, a única maneira de saciar a dúvida sufocante seria se ater, a menos uma vez, a escutar o pai e o que ele tinha a dizer, mesmo que não exatamente direto dele.
A proximidade da perda de um ente querido, assim como a própria morte iminente, pode fazer muitos se auto-avaliarem e descobrirem por meio das imagens gravadas na mente quem por muito esteve errado e onde. Para alguém que passou boa parte da vida sem prestar atenção no grande amor que sentia por um pai que proporcionava em dobro a mesma carga sentimental ao filho, Blake reagiu bem e espelhou o bom critério de Quando Você Viu seu Pai pela última Vez? para contar uma história de amor através do drama; sem necessariamente dar espaço só para lágrimas e arrependimentos.
Por Arthur Melo
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Blogger Widget