TÁ PIRANDO, PIRADO, PIROU!

Desde 2005, o Coletivo Carnavalesco Tá Pirando, Pirado, Pirou! abre alas pra loucura no carnaval do Rio. Formado por usuários e profissionais da rede pública de saúde mental do Rio de Janeiro, a proposta do coletivo é integrar as artes carnavalescas e a saúde mental.


O desfile acontece na Av. Pasteur (Urca) – endereço que abrigou o Hospício Pedro II, o primeiro da América Latina, onde Lima Barreto esteve internado por duas vezes –, sempre no domingo que antecede o carnaval. Neste ano desfilaremos no dia 24/02, às 15h. O puxador do samba nessa folia toda é a Reforma Psiquiátrica.

O Tá Pirando, Pirado, Pirou! foi fundado em dezembro de 2004, pegando carona no movimento cultural de revitalização do carnaval de rua do Rio. Naquele ano, um folião inquieto do Instituto Municipal Philippe Pinel afirmou: “Não vamos fazer carnaval só pra quem tá aqui dentro e já pirou, vamos pra rua brincar com quem tá pirando... Tá pirando, pirado, pirou!”. Estava batizado o bloco e foram abertos os trabalhos. Logo, no carnaval de 2005, uma ala de pirados muito ousados desfilou pelas ruas da cidade, botando pra fora as suas fantasias.  

De 2004 para cá, tem louco de tudo que é jeito se juntando ao coletivo e pirando geral. Tem louco que é usuário da rede, tem louco que é parente, tem louco que é técnico, tem louco que quer é botar o bloco na rua. É como diz o velho ditado: “De carnavalesco e mestre-sala, todo mundo tem um pouco”.


Cerca de 100 pessoas participam das atividades de preparação para o desfile, incluindo oficinas de artes, percussão, composição musical, registro fonográfico, escolha coletiva do enredo e concurso de sambas realizado no Rio Scenarium, tradicional casa de samba da Lapa. Essas atividades proporcionam um rico espaço de convivência, trocas de ideias e experimentações estéticas que geram um vuco vuco tremendo e importantíssimo no desenvolvimento das ações culturais de integração da Rede de Saúde Mental e do tecido social em torno dessa rede... E você achando que o Tá Pirando, Pirado, Pirou! era apenas sobre aqueles corpinhos esculturais que abrilhantam o carnaval da Avenida Pasteur...

A gente entende que o desfile na Avenida Pasteur é o ápice do projeto, o símbolo maior da inclusão. Sim, companheiro, pode acreditar! Tempos houve em que piração era sinônimo de periculosidade, improdutividade e incapacidade de convívio social, toda loucura se encarcerava e essa gente não podia ser alegre. Pisar na avenida, então... jamais! As grades não permitiam sequer ver o bloco passar.


Mas a Luta Antimanicomial e a implementação da Reforma Psiquiátrica no Brasil trouxeram novo enredo e harmonia pra essa história, não deixaram o samba morrer e o lugar que antes era referência de dor e marginalização se tornou passarela de todo o charme, carisma e alegria que só o pessoal da saúde mental sabe distribuir. A apoteose acontece em frente ao Pão de Açúcar, onde o ilustrador do bloco, que se trata no Pinel, enxergou as ancas de uma gigantesca passista. No desenho que estampa as camisas do bloco, o bondinho é um detalhe do biquíni da passista, logo batizada de “Madame Bondão”.
“No Pão de Açúcar de cada dia, dai-nos, Senhor, a poesia de cada dia!”

Dessa forma, o Tá Pirando, Pirado, Pirou! segue tomando a arte como instrumento potente para ressignificar a loucura na sociedade. Cada vez mais a gente se aproxima dos nossos objetivos de ampliar e fortalecer essas atividades que estimulam a inclusão de diversas pessoas da rede da saúde mental da capital carioca na cultura do carnaval.


A atuação do Tá Pirando, Pirado, Pirou!, a cada ano, amplia a conquista de três resultados fundamentais:

1 - A promoção da autonomia dos usuários beneficiados pelo projeto, por meio do engajamento na cultura, da circulação na cidade, do exercício da cidadania e da construção de laços para além dos muros das instituições psiquiátricas. Percebemos os retornos significativos desse investimento, que gera impactos importantes para aqueles que participam regularmente das atividades e realmente vestem a camisa do coletivo.

2 - A adesão crescente de usuários dos serviços de Saúde Mental, profissionais e familiares nas oficinas e no desfile, bem como maior sensibilização da comunidade acerca da loucura, contribuindo para a diminuição do estigma e possibilitando a inclusão social dos usuários.

3 - A construção de cada vez mais parcerias com a comunidade e com organizações afinadas com a proposta do Tá Pirando, Pirado, Pirou!.

Na terra dos bruzundangas: Lima Barreto visionário .


O Coletivo Carnavalesco Tá Pirando, Pirado, Pirou! homenageia Lima Barreto com o enredo Na terra dos bruzundangas: Lima Barreto visionário.

No livro Os Bruzundangas Lima Barreto cria um país fictício, marcado por grandes desigualdades sociais, mau uso do bem público, nepotismo, corrupção, hipocrisia e outras mazelas, e no qual habitam personagens arquetípicos como o “mandachuva”, o “grande financista”, o “ministro” e o “general”.


Lima tece uma crítica irônica, feroz e mordaz às elites política e econômica da República dos Estados Unidos da Bruzundanga, revelando de forma nua e crua que os poderosos daquele país não estão verdadeiramente interessados em diminuir as desigualdades sociais. Ao contrário, querem concentrar a riqueza nas mãos de poucas famílias: “Ai daquele que contrariar os interesses das cinco ou seis famílias que governam a Bruzundanga”.


Abordando assuntos dolorosos com humor fino e inteligente, Lima Barreto foi um grande intérprete do Brasil, um visionário que estava a frente de seu tempo, e cuja obra permanece atual, especialmente neste momento da nossa história. Neto de escravizados, Lima queria que sua literatura fosse militante, engajada no combate ao racismo e voltada para os desvalidos. A vida e a obra de Lima Barreto tem relação estreita com a loucura e as instituições manicomiais. Transtornos mentais decorrentes do alcoolismo levaram a internações no Hospital Nacional de Alienados.


Criticando a função social de controle exercida pela psiquiatria e o darwinismo social que defendia que a mestiçagem causaria degeneração, Lima escreve, em O diário do hospício, que “a cor negra é a cor mais marcante. Aqui no hospício, todos são negros”. Um ano depois da primeira internação, Lima Barreto publica aquela que foi considerada a sua obra-prima: O triste fim de Policarpo Quaresma. O personagem Policarpo, inspirado em seu pai, é uma espécie de “Dom Quixote tropical”, internado no manicômio por ser um sonhador que enlouquece de ideais e amores pelo Brasil - uma obra que até hoje inspira o ideário de uma sociedade sem manicômios.


Em uma de suas internações no hospício localizado na Praia Vermelha - no mesmo endereço em que o bloco Tá Pirando passa carregando o seu estandarte do sanatório geral - Lima Barreto escreveu: "…o ar azul dessa linda enseada de Botafogo que nos consola na sua imarcescível beleza, quando a olhamos levemente enrugada pelo terral, através das grades do manicômio, quando amanhecemos lembrando que não sabemos sonhar mais…".

Que Lima Barreto nos ajude a voltar a sonhar e a lutar por um Brasil mais justo, plural e amoroso!




Pra colocar o bloco na rua

Orçamento

Já tem muita gente se mobilizando de forma voluntária pra fazer o desfile acontecer, mas também precisamos de dinheiro pra contratar caminhão de som, músicos, confeccionar camisas, material de divulgação, transporte , entre outros gastos. 

Essa campanha irá viabilizar os recursos mínimos pra que possamos desfilar no dia 24 de fevereiro de 2019, e permitir que sigamos realizando esse conjunto tão amplo de atividades.

Precisamos da sua força pra colocar o nosso bloco na rua.

Abaixo um infográfico carnavalizado dessa nossa folia:



Fonte: Catarse
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