Freud disse um dia: “O humor é um dom precioso e raro”. O pai da psicanálise mostra o seu humor sarcástico numa história real, acontecida em 1938, quando teve que deixar a Áustria, depois que sua filha Ana foi presa e interrogada pelos nazistas.
Ele foi obrigado a assinar um documento, dizendo que não sofrera maus tratos e, com ironia fina digna do humor negro, acrescentou com sua própria letra:“Posso recomendar altamente a Gestapo a todos.”
Ou seja, fazer humor é saber lidar com o sofrimento através de palavras que fazem rir. É transformar a tragédia em algo risível e assim, triunfar sobre a dor.
Um excelente exemplo desse modo de falar sobre as limitações e os desastres da vida humana é o filme “Relatos Selvagens”, que tem Agustín e Pedro Almodóvar como produtores.
Em seus seis episódios, todos ótimos, rimos da maneira como pessoas como nós mesmos, perdem as estribeiras quando tudo dá errado.
Os episódios, escritos e dirigidos por Damián Szifrón, 39 anos, que também participou da montagem, mostram um humor negro com o qual nos identificamos. Rimos porque nos vemos no papel daquele ser humano que, contrariado em seus desejos, vinga-se com uma graça nada politicamente correta.
Porque bem lá dentro, todo mundo é bastante malvado. E, com o filme rimos, ao invés de atuar essa maldade, que, por um curto espaço de tempo é permitida e incentivada.
“Relatos Selvagens” é imperdível. Não só como catarse mas para apreciar a inteligência de quem imaginou e escreveu histórias tão universais, que estão fazendo sucesso por onde passam.
As fotos de animais da África nos créditos iniciais já brincam com o título do filme. Vocês vão ver quem é selvagem aqui.
Tudo começa com contundência e impacto no episódio do avião, continua com uma mulher que toma as dores da outra, depois na estrada uma rixa deriva para um combate, enquanto que a burocracia leva Ricardo Darín às raias da loucura, num dos episódios mais latino-americanos do filme e um pai se desespera com o filho, para tudo acabar num casamento onde a noiva estressada, a ótima Erica Rivas, derrama sangue e lágrimas, fechando o filme com uma nota de bom coração.
Por: Eleonora Rosset
Ficha Técnica
Título original: Relatos Salvajes
País: Argentina/Espanha
Ano: 2014
Direção: Damián Szifron
Roteiro: Damián Szifron
Elenco: Ricardo Darín, Rita Cortese, Dario Grandinetti, Leonardo Sbaraglia, Julieta Zilberberg, Érica Rivas, Osmar Núñez, Oscar Martinez, Maria Onetto, Nancy Dupláa
Duração: 122 min.