Em 10 de fevereiro de 1823 houve o primeiro desfile de carnaval em Colônia, na Alemanha. A cidade lutava para resgatar a tradição proibida pela França após a anexação da margem esquerda do Reno.
Era uma manhã chuvosa e gelada de inverno europeu. Mesmo assim, os foliões compareceram à praça Neumarkt, no centro de Colônia, para confraternizar com o "príncipe" – na Alemanha não há rei no Carnaval. No início do século 19, a cidade lutava para resgatar uma tradição proibida pelos franceses, que haviam anexado a margem esquerda do Reno e controlavam a chamada Liga Renana, criada em 1806.
A administração de Colônia já conseguira derrubar a proibição, mas o clima de Carnaval demorou a ressurgir. No outono de 1822, um grupo de colonianos iniciou a reorganização da festa. O então prefeito da cidade, Heinrich von Wittgenstein, foi eleito porta-voz dos foliões e aprovou um "manifesto por reformas". A primeira assembleia geral foi convocada para janeiro de 1823.
Dessa assembleia nasceu o comitê que organiza o Carnaval de Colônia até hoje. O primeiro "príncipe do carnaval", empossado no dia 10 de fevereiro de 1823, foi Emanuel Zanoli, fabricante da famosa "água de Colônia". Dois anos depois, a associação carnavalesca já publicava seu próprio jornal, logo proibido pelo governo da Prússia. Mas foi também um imperador prussiano – Frederico Guilherme 3º (1797–1840) – que restituiu os direitos da entidade. Desde esta época, é comum os "blocos" usarem uniformes estilizados de guarnições prussianas.
Em 1844 ocorreu um racha na organização e, em consequência, a cidade ficou dois anos sem carnaval. As brigas e divisões repetiram-se nas décadas seguintes, mas sempre acabavam na folia coletiva. Desde 1922, o chamado "comitê da festa" é uma entidade representativa. Em 1935, sob a presidência de Thomas Liessen, mais de 30 sociedades carnavalescas uniram-se para formar a Comissão da Festa do Carnaval de Colônia.
Ela organiza os desfiles da Rosenmontag, a Segunda-feira das Rosas. Depois da Segunda Guerra Mundial, a entidade voltou a usar o nome original de "Festkomitee des Kölner Karnevals von 1823".
Temporada começa em novembro
O Carnaval de Colônia é um agito de multidões e movimenta milhões de euros. Quando, em pleno inverno, se ouve o "grito de guerra" Kölle Alaaf! (Viva Colônia!, no dialeto local) pelas ruas da cidade marcada por sua catedral, é sinal de que começou a "quinta estação do ano" à beira do Reno. O início da temporada já acontece no dia 11 de novembro, às 11 horas e 11 minutos, e vai até a Quarta-Feira de Cinzas.
Os foliões tomam conta da cidade que, por natureza, já abriga uma população extrovertida. Colônia entra em transe já na quinta-feira e contagia a Alemanha com um gingado que, a cada ano, se torna mais internacional – inclusive com batuque de samba brasileiro. As cidades de Düsseldorf e Mainz são as concorrentes na folia.
O desfile pioneiro de 1823 foi um marco na história de Colônia, mas nas retrospectivas internacionais da festa merece apenas uma nota de pé de página. Talvez porque a Alemanha não seja considerada um berço do Carnaval.
Irreverência e fantasias
Foi em Roma e na Grécia que a festa ganhou algumas características que se mantêm até hoje. A Igreja Católica incluiu-a no Calendário Eclesiástico no ano 590, mas o "carnaval sob controle" não vingou. Os foliões de Roma, Veneza, Paris, Nice, Basileia e Colônia mantiveram o espírito inicial da festa: mistura de classes, irreverência e fantasias.
O pai do carnaval moderno foi o entrudo (da palavra latina introitu, começo, entrada). Na abertura da Quaresma, o povo comia, bebia e festejava, preparando-se para os 40 dias seguintes de jejum. Quanto à origem da palavra carnaval, não há consenso. Alguns pesquisadores afirmam que ela teria surgido em Milão em 1130. Outros dizem que a festa recebeu esse nome na França em 1268. Ou ainda na Alemanha, por volta de 1800.
Segundo o livro A Cultura Popular na Idade Média, de Mikhail Bakhtin, "na segunda metade do século 19, numerosos autores alemães defenderam a tese de que a palavra carnaval viria de kane oukarth (lugar santo, dos deuses e seus seguidores) e de val ou wal (morto, assassinado). Ou seja, "uma procissão de deuses mortos e almas errantes do purgatório, como se fosse um exército de Arlequins desfilando por estradas desertas em busca da purificação das almas".
Por: Geraldo Hoffmann