CORRA LOLA CORRA



Corra Lola Corra, é um longa-metragem alemão com direção de Tom Tykwer, que mostra uma forma incomum e irresistível de montagem de um filme que, apesar de parecer à primeira vista uma colcha de retalhos passando a jato pelos olhos do espectador, soa completamente orgânico em seu conjunto.



A cada fim de uma história, começa outra história, com os mesmos personagens, as mesmas motivações e características, mas com detalhes e decisões que deverão ser tomadas em apenas 20 minutos e farão toda a diferença na vida de Lola, Manni e todos os que cruzam o seu caminho, nessa maratona louca e frenética, marcada por uma trilha sonora techno vigorosa, numa busca imprevisível da salvação do seu amor. Há vários pontos de virada, clímaxes e desfechos que se confundem numa estrutura espiral e circular que permeia todo o filme, isto é, a história acaba sendo retomada continuamente depois de transcorrido todo o seu percurso, mas nunca é retomada como antes, como num espiral, numa clara alusão ao filme “Vertigo”, de Alfred Hitchcock. E a cada volta nesse espiral, é como se Lola estivesse sofrendo um constante aprimoramento através dos próprios erros entre uma corrida e outra, e a cada nova tentativa, estivesse num patamar superior como ser humano: desde a criança tola que não sabe o que fazer e que acaba morrendo violentamente (na primeira corrida), até o ser angelical que salva um paciente terminal dentro de uma ambulância em movimento a caminho do encontro com o namorado, apenas olhando em seus olhos e segurando sua mão. Curiosamente há vários momentos no filme onde os espirais aparecem: no momento dos créditos como uma textura de fundo; o nome do prédio onde está situada a cabine telefônica que Manni usa para telefonar para Lola se chama Spiralle; no início de cada uma das corridas (desenho animado) nas escadarias do seu prédio, como um espiral infinito; e na porta do prédio de Lola há um enfeite em forma de espiral. É bem curioso e intrigante.

O filme também se utiliza do recurso dos flashforwards: são rápidas seqüências fotográficas que representam cenas do futuro de cada pessoa interceptada e que pretendem mostrar para o espectador que dependendo da maneira como Lola os aborda, seus futuros tomam caminhos totalmente diferentes. Por exemplo, a senhora com o carrinho de bebê, que na primeira corrida acaba perdendo a guarda dele, enlouquecendo e tornando-se uma seqüestradora de crianças, na segunda corrida, ganha na loteria, e na terceira corrida, acaba se filiando a uma seita religiosa. Há também os deslocamentos rápidos de câmera e efeitos semelhantes aos de jogos eletrônicos, ilustrando de maneira lúdica e frenética a presença dos templos do mercado na sociedade: o banco, o supermercado, o cassino, os contrabandistas de diamantes, e o maior objeto de desejo do filme: a sacola de dinheiro, que curiosamente aparece em três momentos do filme nas cores vermelhas, verde e amarela (outra mensagem subliminar), e que poderia ser vista como a verdadeira protagonista desse filme, três corridas hercúleas em busca de 100.000 marcos em 20 minutos cada uma.

A trilha sonora que acompanha Lola é frenética, no estilo techno e segue o clima das suas três corridas tresloucadas pela metrópole em busca da solução para salvar seu namorado Manni.

Uma apaixonada, imprevisível e fascinante história sobre o amor e os momentos únicos que podem fazer a vida mudar para sempre, e nos mostram que, muitas vezes, são necessários poucos minutos para decidir sobre a vida e a morte. E são oitenta e um minutos que passam voando, como uma garota de cabelos vermelhos cruzando o seu caminho a 100 por hora. “Corra, Lola, Corra” é um filme muito divertido e interessante, e representa o tempo industrializado, tecnológico e globalizado que vivemos hoje.
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