O QUE TRAZ BOAS NOVAS


Na sala de aula é o lugar em que nossos filhos passam a maior parte do tempo. Em um lugar fechado, com horário, onde a criança é submetida a uma disciplina. Essa disciplina controla seu corpo e sua mente. Essa disciplina prepara para viver em sociedade. Essa sociedade tem determinados parâmetros, ensina determinados discursos. Ensina o que deve dizer e o que não se deve dizer. E tem o professor, aquele que fala em público, se levarmos para a etimologia. No entanto, o termo em latim profiteri tem relação com "professar e confessar". Ou seja, o professor em público professa, faz um ato de fé, e ao mesmo tempo confessa. Confessar, o que sabemos é pegar o que se tem de mais profundo e revelar, para conhecer a si mesmo, revelar para que, através do conhecimento de si próprio, os outros também saibam sobre você e sobre eles mesmos. O professor é um espelho. Quem ensina, pelo que entendemos, tem uma grande responsabilidade e corre um grande risco: deve dar o melhor de si para ensinar (in signare, indicar, mostrar algo a alguém) o caminho aos outros.


Então como se contrasta o que se confessa e o que se ensina, com o discurso aceito e imposto? O que você pode dizer e o que não pode, o que pode e o que não pode confessar? Quanto você pode abrir sua alma, quanto seus alunos podem saber de você? A sala de aula é uma máquina, ou é "um lugar para a amizade, para o trabalho e para convivência, um lugar cheio de vida"?

Esta última frase, devo dizer, pertence ao professor Bachir, um homem misterioso de origem argelina que substitui uma professora que se enforcou em uma escola em Montreal, no filme O Que Traz Boas Novas (Monsieur Lazhar, 2011). Um trabalho simples e bonito que é dirigido pelo canadense Philippe Falardeaus (La moitié gauche du frigo; Congorama; Não Sou Eu, Eu Juro! - C'est pas moi, je le jure!), baseado na obra teatral Bashir Lazhar, de Évelyne de la Chenelière.

O personagem Bachir, interpretado pelo ator e diretor de teatro Mohamed Fellag, é um homem encantador, muito educado, que caiu como uma luva para aquelas crianças que perderam de maneira tão trágica a antiga professora. Bachir significa "portador de boas notícias". Todo o mundo na escola almeja isso. Ele é inteligente e agradável, cumprirá com seu dever de ensinar o que os livros ditam. Só o que os livros ditam. E ali, entre os ensinamentos do discurso oficial, não se ensina, não se fala da morte. Isso Bachir não pode fazer, foi dito categoricamente. Mas estas crianças, claro, têm atrás de si a morte da professora, e essa morte é rodeada de uma névoa que querem eliminar. No entanto, o tema morte é um tabu, a morte é terrível e não faz parte deste guia oficial que a sociedade impõe. Os professores, os mestres da escola não devem falar sobre morte, embora este seja um tema decisivo para as crianças do filme, e esse seja também um tema fundamental para o próprio Bachir, que oculta em seu passado um terrível episódio com a morte. Assim a trama vai se transformando num processo, uma evolução para a confissão que envolve o trabalho de ensinar corretamente. Bachir, em sua honestidade, em sua necessidade humana, em seu dever interno, deve confessar seu passado, deve falar a fundo da morte para limpar a si mesmo e para mostrar um caminho às suas crianças. Mas claro, isto trará conflitos com os pais e com o colégio.

O diretor Falardeau nos traz um trabalho que, apesar da dificuldade de seus temas, se deixa levar pelo encanto da relação do mestre com as crianças, por essa essência de casa, de amizade, trabalho e convivência que proclama o próprio Bachir, o portador de boas notícias. Porque isso é o final do filme: uma história agradável, boa, leve e ao mesmo tempo comovente, que aborda temas profundos sem chegar no patético nem no desprezível dentro do trágico. Deve ser assim, porque o que Philippe Falardeau tenta fazer é transformar esse ato pesado da confissão em um ensinamento ao redor da morte, e que esse ensinamento se converte em um guia para a vida, para fazer crescer a vida.



O Que Traz Boas Novas foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012.


Por: Philippe Falardeaus


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