UMA VIDA ILUMINADA


A memória é quem constrói nossas paixões. A história é composta de lembranças de fatos e sensações. A cada segundo, vivemos nossa própria micro-história, que de uma forma ou de outra, vai desaguar no rio da saudade que se chama História, a universal, a que tem todas as nossas histórias juntas, nossas tristezas e aqueles momentos em que o riso irrompe do peito.

As lembranças podem se resumir a imagens, sons, cheiros, sensações e montam a nossa memória e a nossa trajetória. Há quem goste de escrever, há quem goste de guardar fotos, há quem guarde para si cada instante que lhe foi importante e, em uma faina egoísta, guardar a memória. E, há aqueles que colecionam a memória!
A angústia e o medo do esquecimento, nos impulsionam a guardar aquilo relacionado às boas memórias; uma foto do avô, um broche, uma dentadura, o inusitado.


Jonathan tem para si, a função de colecionar a sua história e a dos seus e, a partir de cada objeto, cada memória, reconstruir e recontar o mundo. Em sua trajetória, lidará com imagens tristes, cenas idílicas, alguma felicidade e corações dilacerados pela paixão guardada e nos faz refletir os vários significados das coisas e das experiências humanas, que sucessivamente avançam e recuam no decurso da vida.


Caminhando em meio a um campo de girassóis, indo em direção a um passado triste que não viveu mas é uma testemunha, descobre que a vida é feita de memórias tragicômicas. Esse é o livro de Jonathan Safran Foer, Uma Vida Iluminada, um misto de autobiografia cômica e romance trágico. Adaptado magistralmente para o cinema por Liev Schreiber em 2005, conta a história de Jonathan e sua aventura pela memória.

Jonathan é um jovem judeu que tem a compulsão de colecionar objetos que lhe lembrem instantes importantes de sua vida. Guarda de sua primeira camisinha, à dentadura do avô. Em um dado momento de sua vida, vê-se com a tarefa de encontrar Augustine, a mulher que salvou a vida de seu avô das tropas nazista, durante a Segunda Guerra Mundial.
Ele quer juntar lembranças em um mosaico para, assim, descortinar a sua própria consciência.


Em uma viagem de autoconhecimento, Jonathan parte para a Ucrânia em busca da história de seu avô e, no fim, da dele próprio. Cheio de manias excêntricas, parte para uma Ucrânia devastada e angustiada, recém reaberta para o mundo.


Em sua empreitada, contrata como guia, Alex Perchov e seu avô, o mal humorado motorista cego que leva a tiracolo o cachorro maluco Sammy Davis Jr., que o levam à Trachinbrod, em busca daquela que salvou a vida de seu avô das garras dos nazistas. Nessa viagem de descoberta os três têm que lidar com o abismo civilizacional e com a luta para conter os sentimentos engastados na história. É uma viagem pelo passado, com, seus traços tristes e horripilantes, que culminam em um belíssimo encontro.


O filme de 2005 tem uma fotografia de encher os olhos e nos leva das gargalhadas às lágrimas em poucas cenas. O Caminhar pelos campos de girassol por entre as memórias, o carro azul velho e carcomido, as fotografias sépia de pessoas a muito mortas, criam um peso no peito que demora a passar. A sensação é de perda.


Destaque para a ótima trilha sonora do filme, composta por Paul Cantelon, quem tem músicas angustiantes e tristes entre a alegria e vibração das canções populares ucranianas. Destaque também para a ótima participação da banda Gogol Bordello.


Enfim, é uma ótima história, que nos leva aos corredores da memória.

Por Bernardo Pessoa

Ficha Técnica

Título Original: Everything is Illuminated 
País: Estados Unidos
Gênero: Drama
Ano de produção: 2005
Direção: Liev Schreiber
Elenco: Elijah Wood, Eugene Hutz, Jonathan Safran Foer, Ljubomir Dezera, Jana Hrabetova, Stephen Samudovsky
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