Na década de 1970, o mundo traumatizado após diversos acontecimentos como guerras, assassinatos e violação de direitos civis começou a gerar, com mais intensidade, casos de assassinatos absurdos, serializados e aparentemente sem explicação clara. Se antes os departamentos de investigação analisavam ocorrências sob pilares objetivos como motivo/oportunidade/meio, cada vez mais se fazia necessário mudar os parâmetros de avaliação de grandes crimes que majoritariamente assolaram os EUA, em especial o notório caso de Charles Manson.
É nesse contexto que Mindhunter, nova série da Netflix com a indistinta assinatura de David Fincher (House of Cards), estabelece o início de sua narrativa, mostrando o jovem e ambicioso investigador do FBI Holden Ford (Jonathan Groff, de Looking) em sua jornada. Especialista em negociação de reféns, ele acaba se enveredando para o lado das ciências do comportamento criminal e começa a explorar, de forma improvisada, as vertentes mais obscuras da psicologia, estudos de cognição e da própria teoria do crime, tão ensinada em faculdades de Direito e academias policiais.
Fincher logo de cara estabelece um ritmo cadente para a história, evoluindo aos poucos com o mesmo cuidado que Holden e seu parceiro Bill Tench (Holt McCallany, de Blue Bloods) possuem ao começar a viajar pelos EUA dando “palestras” para policiais na tentativa de ter acesso a assassinos seriais já capturados. Com isso, eles esperam evoluir a estagnada ciência comportamental e, quem sabe, prevenir casos semelhantes de acontecerem.
Fotografada com maestria, Mindhunter é uma série que vai abrindo suas camadas e aprofundando em sua trama à medida em que os investigadores começam a mergulhar nesse mundo sombrio. Os diálogos são naturalmente brilhantes, ocasionalmente ambíguos e despretensiosamente profundos (de novo, outra marca registrada de Fincher), em especial aqueles travados com a psicóloga vivida por Anna Torv (Fringe) e com o assassino preso Edmund Kemper (Cameron Britton, Stichers).
Evidenciando de forma asséptica e até mesmo distante a nova configuração de um país marcado, o drama mergulha o espectador numa narrativa que não raras vezes se mostra frustrante como os próprios estudos, tentativas e erros da chamada análise empírica de um dos sistemas mais complexos que existem: a perturbada, fragilizada e destrutiva mente do ser-humano.
Por Bruno Carvalho - Ligado em Série