O réu é um marginalzinho qualquer, um vagabundo de quinta que não compreende o valor da vida humana e por isso 11 dos jurados decidem logo de cara; ele é culpado. No caso de julgarem que ele seja culpado, no entanto, a pena de morte é mandatória. Mas, de que importa? Um tipo como esse não merece andar pelas ruas livremente como um cidadão de bem. De fato, não merece andar em lugar algum.
Além do mais, alguns deles tem ingressos para o jogo dos Yankees ao fim da tarde. Outros tem de planejar campanhas publicitárias e outros só querem sair em busca de um lugar para se refrescar – afinal, o ventilador parece estar quebrado –. Ousado é o jurado número 8 que tem a coragem de julgar o rapaz inocente. Afinal, enquanto não houver unanimidade, o júri não pode entregar uma sentença ao juíz. Na figura de Henry Fonda, esse jurado obriga todo o restante dos homens ali a debaterem a vida de um marginalzinho qualquer. E com uma interpretação marcante Fonda vai aos poucos forçando aqueles homens a agirem como tais. Ele os empurra pra fora do mecanismo burocrático no qual estão inseridos tão à fundo que nem mais reconhecem o valor de uma vida humana, à exemplo do fato que decidem sobre o destino de um homem com uma indiferença aterrorizante. Mais aterrorizante ainda é perceber nesse júri um espelho dos nossos próprios preconceitos, cinismos e arrogâncias. No geral, esse é o efeito de todo o conjunto da obra de Sidney Lumet. Cada filme é uma tentativa de forçar sobre o espectador uma autoanálise de seu mundo egocêntrico e mesquinho, afim de devolver-lhe a sensibilidade e a capacidade de notar no outro um indivíduo pleno e digno de seus direitos, independente de sua origem. Nisso, Lumet foi um mestre e é chocante perceber o quão subestimado ele foi, em vida. Sua obra constitui um valor infinitamente maior do que a da grande maioria de seus pares – e aí se incluem Scorsese, De Palma, Spielberg, Lucas, entre muitos outros –. E para afirmar esse argumento, 12 Homens é o exemplo máximo da capacidade que ele tinha para narrar o grande drama humano de ver diminuída sua essência em meio à frieza do cotidiano.
E que trabalho de elenco temos aqui. Deus, é espetacular. Se Fonda é magistral ao chamar pra si a responsabilidade de carregar sobre os ombros uma humanidade moribunda e força-la sobre o restante do júri, a competência de Lee J. Cobb não é menor como um pai frustrado que pede pela condenação do réu como quem condena o próprio filho por toda uma vida de desconsideração. Ed Begley, por sua vez, se põe numa posição de extrema vulnerabilidade ao assumir um personagem revoltante e detestável, cheio de preconceitos e ódio. E nele se tem o exemplo de um ator obrigado a por de lado seu caráter e moral para assumir-se na plenitude daquilo que há de pior em uma sociedade. Esses são apenas 3 exemplos entre 12 atuações soberbas. E não é de se espantar que cada um tenha se exposto dessa maneira, considerando que é senso comum entre qualquer pessoa que jamais tenha trabalhado com Lumet que, para além de sua competência, ele era o grande porto seguro de seus atores.
Como realizador, apesar de seus enormes sucessos, acredito que o ápice da carreira de Lumet seja, de fato, 12 Homens e Uma Sentença. Do trabalho com os atores ao desenho de câmera, que ao revelar cada vez mais o teto vai tornando a narrativa mais e mais claustrofóbica, o filme é uma obra-prima do tratado sobre os homens modernos e seus dramas.
Por: Matheus Rego
Ficha técnica:
Gênero: Drama
Direção: Sidney Lumet
Roteiro: Reginald Rose
Elenco: E.G. Marshall, Ed Begley, Edward Binns, George Voskovec, Henry Fonda, Jack Klugman, Jack Warden, John Robert Webber, Joseph Sweeney, Lee J. Cobb, Martin Balsam
Produção: Henry Fonda, Reginald Rose
Fotografia: Boris Kaufman
Trilha Sonora: Kenyon Hopkins
Duração: 95 min.