O título acima é também o título do livro do professor judeu Shlomo Sand, da Universidade de Tel Aviv. Ele desmascara os argumentos do governo de Israel e prova, a partir de registros e documentos históricos, que a história contada pela grande imprensa sobre Israel e o Estado judeu é mentirosa.
Shlomo Sand, professor de História contemporânea na Universidade de Tel Aviv, em seu livro recém lançado no Brasil, com título “A invenção do povo judeu”, derruba os principais mitos israelenses.
Segundo a historiografia oficial israelense, os judeus, após saírem do Egito, ocuparam a Palestina, construíram Estados, sendo o mais importante o reino unificado de Davi e Salomão. Foram expulsos da terra várias vezes, por diferentes invasores, e a última expulsão teria ocorrido após a destruição do segundo templo, em 70 dC.
Essa historiografia narra que o “povo judeu” vagou por dois mil anos pelo exílio forçado até retornar à sua terra prometida e criar seu Estado nacional na Palestina em 1948.
O problema é que essa narrativa é fantasiosa, falsa e contrária à História, como demonstra Sand.
Assim como Charles Darwin demonstrou que o Velho Testamento não é livro de Biologia, Shlomo Sand demonstra que tampouco é livro de História.
O livro de Sand contém várias teses sobre a história dos judeus e judaísmo. A mais interessante mostra que os atuais judeus não são descendentes dos antigos hebreus ou israelitas, que viviam na Palestina. São, de fato, descendentes de povos e tribos que se converteram ao judaísmo, bem longe da Palestina.
Destaca-se o poderoso reino e tribo de Himyar, que governou o Iêmen e se converteu ao judaísmo no ano 378 dC. O mesmo ocorreu com os berberes do norte da África, que se converteram ao judaísmo e habitavam o território compreendido entre a moderna Trípoli (Líbia) e Fez (Marrocos).
Segundo Sand, a evidência lingüística indica que os judeus sefarditas, i.e, “orientais”, são descendentes de árabes, berberes e europeus convertidos ao judaísmo.
Os judeus askhenazi, i.e., ocidentais, são descendentes dos Kházaros, povo eslavo que habitava, desde o século IV dC, o território ao longo dos rios Volga e Don, ou seja, Rússia e Ucrânia. A conversão dos Khazaros, conhecidos como a décima terceira tribo, ocorreu de forma gradual, entre os séculos VIII e IX.
Após a conquista mongol, os Khazares migraram para os territórios vizinhos, principalmente Polônia, dando origem às numerosas comunidades judaicas no leste europeu.
Sand afirma que a maioria dos judeus hoje são descendentes de tribos que habitavam as margens dos rios Volga e Don, muito longe do rio Jordão e da Palestina.
Outro mito desmascarado por Sand é a deportação dos judeus da Palestina, após a destruição do segundo templo.
O livro mostra que os romanos não expulsaram os judeus de Jerusalém ou mesmo da Palestina. Em nenhum lugar da extensa documentação dos romanos, minuciosos, há qualquer menção de deportação.
Os romanos nunca deportaram povos inteiros de seu vasto império.
Na época do alegado exílio, havia muito mais judeus morando fora da Palestina que dentro do país. Centros como Mesopotâmia (Iraque), Egito, principalmente Alexandria e norte da África, continham comunidades judaicas mais numerosas e mais desenvolvidas, se comparadas com a comunidade na Palestina.
Para os historiadores sionistas, tornou-se necessária a existência de um exílio forçado, caso contrário seria impossível compreender a “história” orgânica do “povo judeu”.
Sand desmascara também o mito sobre a saída dos judeus do Egito e a conquista da Palestina.
Ele explica que os egípcios antigos são conhecidos por registrar detalhadamente os acontecimentos no seu império. Não há nenhum registro sobre movimentação populacional entre Egito e Palestina, que na época, era parte do império egípcio.
Não existem, também, dados científicos, registros históricos confiáveis ou achados arqueológicos sobre o reino de Davi e Salomão.
Os sionistas transformaram o velho testamento, livro de teologia, em livro de história.
No final do século XIX, eles não apenas inventaram um povo, mas também forjaram sua “história”. Isso aconteceu negando fatos históricos e transformando mitos em falsas verdades, para justificar a ocupação da Palestina e expulsão do seu povo.
E como previsto, isso resultou na criação de uma entidade anômala, que vive até hoje uma grave crise de identidade.
Sand explica que Israel se define como Estado judeu e democrático e isso é contraditório. Um país que discrimina um quarto de sua população, autóctone, os não-judeus, não é democrático.
Shlomo Sand, no seu livro, mostra o primeiro passo ao rumo da verdadeira reconciliação e paz justa na região: reavaliar não apenas os mitos israelenses, mas também a própria ideologia sionista, com sua exclusividade “racial” e falsidade histórica.
A História não manipulada ensina que um sonho nacionalista pode se transformar em pesadelo.
Os últimos acontecimentos no Oriente Médio mostram que Israel não é exceção a esta regra histórica.
Shlomo Sand (Áustria, 1946) é professor de história contemporânea na Universidade de Tel-Aviv. Passou seus dois primeiros anos de vida em um campo de refugiados judeus na Alemanha e depois, imigrou com os pais para Israel. Após sua experiência traumática como soldado na Guerra dos Seis Dias, tornou-se militante da extrema esquerda israelense favorável à consolidação de um Estado judaico-palestino.