O ELOGIO AO ÓCIO



A ideia de que os pobres devem ter direito ao lazer sempre chocou os ricos. Na Inglaterra do início do século XIX, a jornada de trabalho de um homem adulto tinha quinze horas de duração. Algumas crianças cumpriam, às vezes, essa jornada, e para outras a duração era de doze horas. Quando uns abelhudos intrometidos vieram afirmar que a jornada era longa demais, foi-lhes dito que o trabalho mantinha os adultos longe da bebida e as crianças afastadas do crime. Eu era ainda criança quando, pouco depois de os trabalhadores urbanos terem conquistado o direito de voto, e para a total indignação das classes superiores, os feriados públicos foram legalmente instituídos. Lembro-me de uma velha duquesa exclamando: 'O que querem os pobres com esses feriados? Eles deviam estar trabalhando.' Hoje em dia as pessoas são menos francas, mas o sentimento persiste, e é fonte de boa parte de nossa confusão econômica.

Se o assalariado comum trabalhasse quatro horas por dia, haveria bastante para todos, e não haveria desemprego – supondo-se uma quantidade bastante modesta de bom senso organizacional. Essa ideia choca as pessoas abastadas, que estão convencidas de que os pobres não saberiam o que fazer com tanto lazer. Nos Estados Unidos, os homens costumam trabalhar longas horas, mesmo quando já desfrutam uma ótima situação, e ficam sinceramente indignados com a ideia do lazer para os trabalhadores, a não ser na forma do castigo cruel do desemprego. Na verdade, eles rejeitam o lazer até para os seus filhos. De um modo muito estranho, ao mesmo tempo que desejam que seus filhos trabalhem tanto que não tenham tempo de se civilizarem, esses homens não se importam que suas esposas e filhas não se dediquem a trabalho algum. A inutilidade esnobe, que nas sociedades aristocráticas se estende a ambos os sexos, numa plutocracia é limitada às mulheres. Isto porém não torna a inutilidade mais de acordo com o bom senso.
Autor
Bertrand Russel nasceu em Ravenscroft Monmouthshire, na Inglaterra, a 18 de Maio de 1872.
Com dois anos de idade perdeu seus pais, sendo então criado por sua avó, que lhe transmitiu os mais sábios e preciosos valores morais e religiosos, os quais o guiou a vida toda.
Quando completou 18 anos de idade ingressou no Trinity College, em Cambridge, onde se dedicou ao estudo da matemática e da filosofia.
Em 1897 concluiu seu doutorado defendendo uma tese denominada “Na Essay on the Foundations of Geometry”
O ano de 1900 foi considerado, por este, o mais extraordinário de sua vida de letrado, teve a oportunidade de participar de um Congresso Internacional em Paris, na área da Filosofia, onde teve contato com as idéias de Giuseppe Peano, matemático italiano que em muito contribuiu para o avanço desta importante ciência. Na ocasião o tema abordado dizia respeito a lógica simbólica.
Foi uma oportunidade única em sua vida e que em muito contribuiu para a publicação de seu livro intitulado “Principles of Mathematics” , no ano de 1903, no qual sustentou a idéia de que as definições matemáticas se sustentam baseadas apenas em algumas premissas consideradas verdadeiras sem haver a necessidade de demonstração, bastando somente trilhar o caminho do raciocínio e entender quais operações são válidas.
Bertrand Russel só veio a ser conhecido mundialmente em 1910, quando, em parceria com Alfred North Whitehead, – famoso filósofo e matemático britânico – publicou o livro “Principia Mathematica”, cujo conteúdo gerou três volumes.
Envolveu-se na política por um breve período; Com a explosão da Primeira Guerra Mundial, porém, Russel não conseguiu ficar indiferente, deu início a uma agitação pacifista, levando em conta suas certezas, suas firmes opiniões.
Em 1918 acabou preso devido a seus ideais políticos, ficou encarcerado por 6 meses, período que aproveitou para escrever “Na Introduction to Mathematical Philosophy”, o qual só foi lançado em no ano de 1919.
Em 1920, após o fim da guerra, decidiu passar um tempo na União Soviética, sendo então convidado a peregrinar pelo Extremo Oriente ministrando várias palestras na Universidasde de Pequim.
Durante a década de 30 editou mais de vinte e quatro livros e cerca de duzentos ou mais artigos em jornais, podendo-se citar o “The ABC of Atoms” e o “The ABC of Relativity entre outros.
Durante o tempo que passou na Inglaterra foi designado professor do Trinity College, em Cambridge e, após a Segunda Guerra Mundial transformou-se em porta-voz da uma Companhia voltada para o Desarmamento Nuclear, inclusive já tendo atuado em muitas empreitadas pela paz. Seu papel alcançou um nível tão surpreendente na divulgação pela paz que, no ano de 1963, estabeleceu-se a Fundação Bertrand Russel pela paz.
Entre os anos de 1967 e 1969 tornou público e notório os três volumes que escreveu intitulado “Autobiografia”, um grande sucesso mundial.
Bertrand Russel foi um dos mais influentes filósofos e matemáticos que o século XX já teve. Durante toda a sua vida sentiu simpatia pelo anarquismo - doutrina que prega o banimento de toda autoridade, a mudança da soberania do Estado pelo contato livre – apesar de ter defendido o esboço de um Estado Mundial para dar fim as guerras entre as nações.
Numa obra publicada quando ainda era jovem, intitulada "Principles of Social Reconstruction" (1916), ele confirma que o Estado e a propriedade são as duas maiores forças ou influências no mundo moderno.
O Estado teria também, segundo ele, um papel de extrema responsabilidade a desempenhar para com a educação, obrigatória para a sociedade, oferecer uma saúde descente ao povo e uma administração baseada na justiça econômica.
Russell morreu em 2 de fevereiro de 1970 em Wales, sendo hoje respeitado como uma alusão que não se pode contornar no século XX devido aos grandes aportes à Lógica e à Matemática e principalmente pela sua contribuição social.

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