O CARTEIRO E O POETA

Olhar, escutar e sentir o personagem Mário Ruoppolo no filme O Carteiro e o Poeta, nos faz refletir sobre a simplicidade do crescimento humano. Como as águas do oceano da pequena ilha onde se passa a emocionante história do encontro entre Pablo Neruda e o Carteiro que lhe entrega regularmente suas correspondências. O mar mantém sua rotina, sustentando a beleza de seus movimentos e o impacto de suas maravilhas. A água bate nas rochas produzindo sons jamais ensaiados. Assim também se faz nosso processo de individuação, um caminho que segue o fluxo natural da vida, ou seja uma tendência espontânea que leva cada sujeito ao encontro de suas verdades interiores. Não podemos entendê-lo como um caminho linear, mas como um grande encontro com a nossa essência; aquilo que realmente somos enquanto humanos.


Mário mostrava-se insatisfeito com a forma de vida oferecida na ilha em que nascera. A tentativa de diálogo com o pai - que já se conformara com seu destino - não resultava em uma saída, não lhe dava respostas. Como num verdadeiro encontro causado pelo universo Mário candidata-se a uma vaga de emprego no correio da ilha. Mal sabia que seu trabalho estaria extremamente ligado ao grande poeta comunista Pablo Neruda.


Esta união transformará a vida de Mário para sempre, mostrando-lhe um novo mundo das ideias, revelando um universo desconhecido da linguagem poética e das metáforas. Essa revelação transformará sua insatisfação interna em lirismo. A descoberta da força expressiva das palavras com capacidade de traduzir os seus sentimentos e o seu pensamento a respeito do mundo, mostrará ao Carteiro a grandeza da alma.


"Quando você explica, a poesia se torna banal. Melhor do que qualquer explicação é a experiência de sentimentos que a poesia pode revelar a uma alma suficientemente aberta para entendê-la". Neste novo olhar descobre-se apaixonado por Beatrice Russo, para quem direciona seu afeto. Este amor que poderia ser compreendido como um simples encontro, o faz descobrir a grandeza de recitar poemas que evoquem seus sentimentos mais profundos. Ao mesmo tempo uma nova verdade se abre diante de seus olhos, passa a envolver-se na vida cotidiana de seu povoado, questionando valores religiosos e políticos. 


Depois da partida do poeta da ilha, Mário se vê solitário em seu caminho. Seu isolamento tornou-se cada vez mais evidente, não cabia mais naquele lugar. O  velho pensamento já não lhe servia. Diante do desejo de produzir um presente para seu amigo distante, decide gravar todos os sons vivenciados pelo poeta durante sua estada na ilha, e com isso, Mário redescobre as belezas de suas terras. A simplicidade dos ventos, a canção do mar, o piscar das estrelas. Redescobre a beleza esquecida. E os sons unidos representaram a musicalidade nos poemas de seu querido amido e mestre.


Após um longo percurso, seu papel no mundo revela-se, definindo sua existência individual e coletiva na união da poesia com a luta comunitária. Ao mesmo tempo em que se inspira em Neruda apropria-se de sua verdade interior. Não é mais uma luta pelo amor de Beatrice, nem pelo reconhecimento de seu mestre. A busca passa a ser sua essência vital. Surge o homem  em seu sentido pleno e completo, como um ser criativo e consciente de seu significado no mundo. 



Por: Daniele S. Melo, Diego S. Oliveira, Geniole P. Alves e Odiléia de Paula Ferreira 

Ficha Técnica:

Direção: Michael Radford
Ano: 1994
País: Itália, França e Bélgica
Gênero: Drama, Romance
Duração: 109 minutos / cor
Título Original: Il Postino
Roteiro: Michael Radford, Anna Pavignano, Massimo Troisi, Giacomo Scarpelli e Furio Scarpelli, baseado no livro de Antonio Skármeta
Produção: Mario Cecchi Gori, Vittorio Cecchi, Gori e Gaetano Daniele
Música: Luiz Enríquez Bacalov
Direção de Fotografia:Franco Di Giacomo
Desenho de Produção: Lorenzo Baraldi
Figurino: Gianna Gissi
Edição: Roberto Perpignani
Estúdio: Miramax Films / Blue Dahlia Productions / Cecchi Gori Group Tiger Cinematografica / Esterno Mediterraneo Film / Penta Films, S.L.
Elenco: Massimo Troisi, Philippe Noiret, Maria Grazia Cucinotta, Renato Scarpa, Linda Moretti, Mariano Rigillo, Anna Bonaiuto, Nando Néri, Sergio Solli, Carlo Di Maio, Vicenzo Di Sauro, Orazio Stracuzzi, Alfredo Cozzolino

Sinopse: Por razões políticas o poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret) exila-se em uma ilha na Itália. Lá um desempregado (Massimo Troisi) quase analfabeto é contratado como carteiro extra, encarregado de cuidar da correspondência do poeta, e gradativamente entre os dois se forma uma sólida amizade.
  
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