BAMBUCICLETAS

Em 1999, o estudante de desenho industrial na PUC-Rio, Flávio Deslandes, apresentou como projeto final da graduação o primeiro protótipo da bambucicleta.


A patente da invenção foi requerida em 2005. Há 12 anos radicado na Dinamarca, Deslandes nem imaginava que voltaria ao Brasil pra treinar 15 comunidades beneficiadas pelo projeto Escolas de Bicicleta, que irão fabricar os quadros de bambu de quase 5 mil bikes.


Recentemente uma parceria com a prefeitura de São Paulo criou a primeira e única "fábrica" de bicicletas de bambu de São Paulo. Ocupando dois andares de um CEU, ela é peça essencial do projeto Escolas de Bicicletas, que prevê que, até o fim do ano, cem alunos de 12 a 14 anos em cada um dos 46 CEUs se desloquem para a escola em comboios de bicicletas, acompanhados por monitores. A Secretaria Municipal de Educação e o Instituto Parada Vital formularam uma metodologia conjunta para treinar e capacitar monitores que atuam diretamente com os alunos nos CEUs. Além de conhecimentos sobre legislação, normas e regras de trânsito na cidade de São Paulo, os monitores tiveram curso de primeiros-socorros, aprenderam sobre a mecânica das bikes e estão capacitados a ensinar o aluno a pedalar, ter equilíbrio, autonomia com as mãos, entre outros aspectos cognitivos. Hoje, cerca de 500 crianças já pedalam nesse esquema. E todas as bicicletas saem das mãos dos 12 jovens do Jardim Paulistano. A fábrica tem capacidade de produção de cerca de 50 bicicletas por dia e, desde o início da operação, em março, já construiu 1,5 mil. Serão 4.680 até novembro. Segundo o coordenador do projeto, Daniel Guth (Instituto Parada Vital), a opção pelo bambu não é à toa. "Nossa ideia não é apenas colocar bicicletas na rua, mas também conscientizar as crianças sobre conceitos como sustentabilidade e ambientalismo. O bambu gasta muito menos energia do que o alumínio e é produzido bem perto daqui, em Bragança Paulista, o que diminui os custos com transporte. A pegada de carbono é muito pequena." O caderno de um aluno que faça parte do projeto Escolas de Bicicleta tem lições sobre legislação de trânsito, transporte sustentável, estilos e modalidades de bicicleta, oficina de mecânica e montagem, história e cultura da bicicleta, educação ambiental, e até orientações sobre liderança e mediação de conflitos. Terminadas as anotações, é hora de subir na magrela e treinar equilíbrio, postura e resistência. Até mesmo a criança que nunca andou de bicicleta pode se tornar um aluno-ciclista. “Com o novo projeto temos mais segurança para andar nas ruas. E vamos mostrar para as pessoas como andar de bicicleta é legal e bom para o meio ambiente”, diz Edmilson Henrique Ferreira, 15 anos, o novo ciclista da Escola de Bicicleta do CEU São Mateus. As bicicletas do programa são customizadas e inéditas no país e foram criados pelo designer brasileiro Flávio Deslandes, que inventou a primeira bicicleta de bambu em 1995 e hoje desenvolve seus projetos na Dinamarca. No Brasil, elas estão sendo construídas dentro do CEU Jardim Paulistano. Além das bikes, os alunos recebem um kit composto por capacetes, iluminação, colete refletivo, bagageiro e alforje, buzina, espelho retrovisor e cadeado. A Secretaria Municipal de Educação investiu R$ 3,1 milhões na implantação do programa. O investimento para manter o programa é de R$ 1,4 milhão por ano.


O designer carioca começou a pesquisar sobre a construção de equipamentos feitos de bambu em 1994, com a intenção de unir design moderno a materiais naturais. Até andadores para portadores de dificuldades motoras Deslandes chegou a projetar. O bambu é 17% mais resistente do que o aço e tem a leveza do alumínio, sem os danos ambientais causados pela fabricação deste material. É flexível, resistente a trepidações e tem durabilidade maior que qualquer outro material. Se até Santos Dumont usou bambu para fazer seus primeiros aviões, por que não daria certo para fazer bicicletas? As peças feitas de bambu para constituir o quadro são coladas com resina vegetal, tornando as bambucicletas um equipamento que esbanja sustentabilidade. Além disso, o bambu é abundante na natureza e não requer fertilizantes para o seu cultivo. E emprega mais de 2 bilhões de pessoas no mundo empenhadas no seu cultivo, coleta e transformação em outros produtos.
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