QUINUA


Para os incas, uma planta sagrada. Para o homem moderno, uma alternativa alimentar altamente nutricional, e ecologicamente viável.

Esta é a quinua, um vegetal cultivado nas regiões andinas há pelos menos 5 mil anos, e que continua a ser produzido principalmente no Peru e na Bolívia. Conhecida também como o “trigo dos incas”, a quinua é um tipo de cereal que produz uma semente pequena, comestível, rica em proteínas, vitaminas e minerais. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), a quinua é um dos poucos vegetais completos, por apresentar um balanço de aminoácidos adequado à nutrição humana. De fato, as sementes constituíram, no passado, a base da alimentação da família boliviana, e até hoje representam um elemento fundamental à dieta dos camponeses andinos. O nome “quinua” é de origem quéchua, o idioma falado pelos antigos incas. A quinua real é só uma das muitas espécies do vegetal, que conta com mais de 2 mil variedades, classificadas em categorias distintas. Dotada de grande resistência, a planta se adapta a diversas condições de latitude e altitude, e pode crescer em zonas áridas e semi-áridas. Mas apesar das incríveis propriedades da quinua real, o alimento se manteve, durante muito tempo, exclusivamente destinado ao consumo próprio, principalmente por causa da sua baixa produtividade. O cereal produz uma única colheita anual, o que eleva o preço da unidade. Por isso mesmo, a planta, cujo cultivo segue técnicas basicamente artesanais, é perfeitamente aplicável à agricultura orgânica e às hortas familiares. O valor protéico da quinua real é superior ao dos demais cereais. As sementes contêm 23% de proteínas e grande quantidade de vitaminas, tais como B1, B2, B3, B6, C e E. É rica também em minerais como o ferro (9,5 mg/100 g), o fósforo (286 mg/100 g) e o cálcio (112 mg/100 g). Da mesma forma, o valor calórico está calculado em 350 Cal/100gr, o que faz da quinua um alimento apropriado para áreas altas e épocas mais frias. A composição de aminoácidos essenciais confere à planta um elevado valor biológico, comparável somente ao leite e ao ovo. Este valor biológico é medido segundo a quantidade de proteínas absorvidas pelo organismo por cada 100g do produto ingerido. O índice da quinua é igual a 75 (por 100 g), do ovo 95, do leite 72, do trigo 60, e do milho 44. Essas proteínas atuam para um melhor rendimento e elasticidade das fibras musculares, auxiliam na recuperação de tecidos e células e estimulam a produção de hormônios e enzimas.
Propriedades Medicinais
Uma pesquisa revelou que a quinua real age na prevenção de enfermidades crônicas, como a osteoporose, o câncer de mama, as doenças do coração e outras alterações femininas decorrentes da carência de estrógenos na menopausa. O estudo observou que as mulheres do altiplano boliviano, cuja dieta é rica em quinua, apresentam um índice reduzido de osteoporose em relação às mulheres de outras cidades, que não consomem o alimento. Os cientistas acreditam que isso aconteça pela presença, na quinua, dos chamados fitoestrógenos, existentes na maioria dos cereais comuns. Contudo, ainda não houve um exame científico que comprovasse a presença da substância na quinua. A importância de uma análise mais aprofundada nesse sentido foi recentemente levantada pelo bioquímico Roger Carvajal, da Universidade de San Andrés (La Paz, Bolívia), em reunião com produtores de quinua real.
Indicações
O alimento é especialmente útil às crianças porquê contém lisina, um componente relacionado ao desenvolvimento da inteligência, da rapidez de reflexos e de outras funções como a memória e a aprendizagem. Outra indicação da planta é aos atletas. A quinua, além de ajudar na recuperação das fibras musculares, é de fácil digestão e contém pouco colesterol e gordura – perfeito para quem faz exercícios físicos. Nos homens, atua como normalizador da próstata e dos órgãos reprodutores. Combate anemias, problemas urinários, tuberculose, complicações no fígado e desnutrição. Em 1994, os agrônomos Duane Johnson e Sarah Ward, da Universidade do Colorado (EUA) registraram a patente da quinua apelawa, uma variedade tradicional da quinua boliviana. Com isso, os americanos garantiram o monopólio sobre o controle das plantas masculinas estéreis e sobre o seu uso na tentativa de criar outras espécies híbridas. A apelawa é uma categoria cultivada no altiplano da Bolívia, região próxima ao lago Titicaca. De acordo com as leis internacionais, os agrônomos foram os primeiros a identificar e usar sistemas confiáveis de esterilidade masculina citoplasmática para a produção de híbridos. O registro não está apenas limitado a uma só variedade híbrida, mas a toda quinua híbrida que seja derivada do citoplasma do macho estéril da apelawa. Agora, Johnson e Ward têm o direito de proibir as importações de quinua para os Estados Unidos, se essas plantas forem produzidas segundo a sua tecnologia patenteada. Indignados, os agricultores bolivianos criticaram a patente junto às Nações Unidas, alegando que a atitude ameaça a segurança alimentar dos povos andinos e constitui uma violação aos direitos humanos. - A patente da quinua é um exemplo típico de biopirataria – declarou Pat Mooney, diretor executivo da Fundação Internacional do Avanço Rural (RAFI), uma ONG com sede no Canadá, que se levanta em favor dos camponeses – Ao registrar a patente, os estadunidenses se apropriaram egoisticamente do conhecimento e dos recursos genéticos que pertencem aos povos indígenas dos Andes – insistiu Mooney.assado e Presente
Durante muito tempo relegada ao comércio local, a quinua real está ganhando projeção internacional e conquistando, aos poucos, consumidores em todas as partes do mundo. A Bolívia, maior produtora e exportadora do cereal, tem se empenhado, nos últimos anos, em ampliar o cultivo e assim atender às exigências do mercado globalizado. A cultura da quinua, tal qual é feita há milhares de anos, tem por base uma produção orgânica, saudável e ecologicamente adequada. A quinua é mais do que uma atividade agrícola, mas também um estilo de vida, uma miscelânea de técnicas e tradições antigas que nos aproxima do passado pré-colombiano, ainda vivo nos corações e nas mentes dos camponeses andinos.
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