THE KILLING


Situada na chuvosa e fria Seattle, Washington, cenário perfeito para toda tensão que percorre o seriado.  Temos como protagonistas de nossa série a detetive Sarah Linden (Mireille Enos) e seu parceiro, recém-transferido da narcóticos para a homicídios, Stephen Holder (Joel Kinnamam). Os dois são aparentemente muito diferentes, mas unem forças para resolver os homicídios que servem de mote para o seriado. Mas não se engane ao pensar que The Killing é só mais uma série policial em meio a tantas outras produções semelhantes, porque ela vai além, eu arriscaria dizer que se trata mais de uma análise psicológica dos personagens que permeiam a trama, do que uma simples busca pelos assassinos. A série é um drama, que se desenvolve lentamente, mas que deixa um gancho ao final de todo episódio, fazendo com que esperemos ansiosamente pelo próximo, para a resolução do conflito.




The Killing é uma série americana, baseada em um seriado dinamarquês, que estreou na TV em 2011 e encerrou em 2014. A série teve dois cancelamentos, mas foi resgatada pela Netflix para sua quarta e última temporada.



A primeira e segunda temporada giram em torno do caso Larsen, uma adolescente de 16 anos que foi encontrada morta no porta-malas de um carro. Diante disso, temos a família da jovem enfrentando a dor da perda e tentando sobreviver a tragédia e a angustia de não saber quem foi o responsável pela morte da filha. Até aí já há margem pra uma interpretação profunda dessa família, muitas vezes o coração chega a doer ao vermos todo o sofrimento que a família enfrenta, porém a série se constrói tendo como foco os detetives Linden e Holder. Eles estão longe de serem super investigadores, seguem linhas diferentes de investigação que muitas vezes não levam aos verdadeiros suspeitos, e seus superiores nem sempre estão dispostos a colaborar, sequer se parecem com agentes de policia, e é exatamente aí que está o sucesso. A simplicidade faz com que se aproxime da realidade, diferente das demais séries policiais, não há todo o glamour e tecnologia, e o que temos são pessoas mal vestidas e que muitas vezes não conseguem separar vida pessoal da profissional



Desde o início temos nossos protagonistas como pessoas quebradas, devastadas emocionalmente e cheias de segredos, eles são humanos, ficam irritados, sofrem, sentem medo e cometem erros, e precisam lidar com as consequências deles. Sarah é mais introspectiva e cautelosa, já Holder é bem humorado e não filtra o que fala, o que os tornam personagens muitos interessantes, com muitos conflitos internos. Ambos permitem uma análise profunda e é provável que ocorra diversas identificações. A insegurança da Sarah, o desequilíbrio emocional frente ao trabalho e ao medo de não estar sendo uma boa mãe, a obsessão em resolver tudo para ontem, quantas vezes já não nos sentimos assim? Quantos de nós passamos a vida toda procurando por algo que esteve ali o tempo todo, do nosso lado? Essas questões, assim como a confiança, o luto, julgamentos da sociedade, a doença mental e tudo o que há de mais instintivo no ser humano é abordado de forma tão grandiosa que permite uma análise psicanalítica rica, tão rica que a série acaba e nós ainda estamos fazendo interpretações.   


A terceira e a quarta temporada investigam casos diferentes, porém se completam e perguntas que não foram respondidas anteriormente agora são reveladas. Linden e Holder estão ainda melhores, mais companheiros e a parceria parece estar em seu melhor momento, é engraçado ver como os dois passaram de estranhos sem salvação a melhores amigos. Essa terceira temporada trás a tona um caso que perturbou Sarah e agora os fantasmas do passado estão aí para cobrá-la pelo erro cometido. Em minha opinião essas duas últimas temporadas são as melhores, temos novamente o tema família sendo explorado, seja nas questões que dizem respeito aos homicídios, a tensa relação de Holder com a irmã, a dificuldade da Sarah em lidar com seu filho ou na pequena família que foi formada por Linden e Holder, essa questão é abordada com muita sutileza, é quase um simbiose, pois embora não formem um par romântico, a conexão entre eles vai além disso.



A última temporada é a mais fantástica, nela temos os detetives de uma forma nunca vista antes. Após cometerem um assassinato, eles estão pela primeira vez do outro lado, agora eles são os culpados. Temos os nossos queridos Linden e Holder prestes a explodir a qualquer momento, o que se torna interessante, pois embora eles cometessem muitos erros, sempre foram pessoas íntegras e de bom caráter.  Chega a ser angustiante ver o passar dos dias e como eles tentam lidar com isso. Agora eles têm um segredo, o que pode manter a amizade e parceria ainda mais forte, ou colocar tudo a perder, se considerarmos que muitos segredos são tão tóxicos a ponto de destruir relações. Contudo, o fim da série rompe com toda a proposta, porém isso não é ruim, ao contrário dos demais personagens que terminaram a série completamente destruídos, Sarah e Holder conseguem encontrar um no outro a paz que sempre procuraram.



É desesperador, chegando a um verdadeiro incômodo, ver a Sarah com diversas funções psíquicas alteradas e que a levam ao fracasso, fazendo-a negligenciar o próprio filho e a sua saúde, deixando de  dormir e se alimentar. Porém, é reconfortante acompanhar a mudança que Holder trouxe para sua vida, é bonito ver a pessoa que ela se tornou quando passou a confiar nele e tê-lo como o seu porto seguro. Não me surpreenderei ao ouvir de alguém, que chorou com a Linden todas as vezes que seu mundo desabava, e que estampou um sorriso bobo no rosto sempre que Holder estava lá pra protegê-la e fazê-la rir com seu humor irônico. Com personagens tão bem construídos se torna praticamente impossível não amá-los e torcer para que consigam se recuperar de todos os danos emocionais que a carreira no departamento de homicídio causou.  E é esse ponto fundamental, aquilo que todo estudante de psicologia ouve desde o primeiro dia de aula, mas que cabe a todos os seres humanos: aprenda a se solidarizar com a dor do próximo, todos temos uma história que merece ser compreendida e respeitada, tente se colocar no lugar do outro e ver com os olhos dele, como diria Carl Jung “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.
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