CLUBE DE COMPRAS DALLAS


O mercado da vida tem como moeda de troca a tragédia. Por alguns segundos, minutos, dias ou anos que sejam, a barganha com a existência se torna imponderável: as promessas vazam das palavras, o surto do comportamento despressuriza a moral, a avidez agiliza a necessidade. Um dos grandes mercadores é silencioso e incorruptível. Atende pelo nome de AIDS. Sua face assusta qualquer um.

Dentro de toda a estrutura de troca, mercadoria, aquisição e valor, todo um sistema interno atua como as veias da organização. Enquanto a existência desvela seus ambientes e tensões, um mercado interno e negro se mobiliza para esticar a linha da vida. Remédios e outras drogas potencializam a sobrevivência, fazendo circular novos modos de sobrevida. A tragédia vai sendo estendida, as cortinas não se fecham. É nessa tensão do mercado integrado, no tráfico da sobrevivência que o ‘Clube de compras Dallas’ se projeta nas telas.


Somos apresentados à Ron Woodroof (o incrível Matthew McConaughey), um eletricista machão que vive entre rodeios e mulheres. A ironia da jogada de poker maldizendo o ator homafetivo que anda internado no hospital por causa da AIDS aproxima o roteiro: Woodroof se descobre também portador da síndrome. Tendo sido descoberta em si mesmo em 1986, num dos anos mais obscuros da doença, Ron ouve dos médicos que só lhe restam trinta dias de vida.

Ele desacredita o diagnóstico. Porém, a doença martela seu juízo. Ron pesquisa sobre a doença, e começa a se amedrontar. Descobre uma fármaco capaz de ajuda-lo a enfrentar a síndrome, porém ainda em fase de teste. A malha da sobrevivência vai caindo sobre ele. A indústria farmacêutica começa a dar as caras, as artérias do submundo começam a sangrar. Ron descobre que o fármaco oferecido nos hospitais não ajuda tanto assim, e inaugura sua própria veia no submundo do mercado de fármacos. Aqui, conhece Rayon (o encantador Jared Leto), um travesti que vira seu parceiro nas linhas de frente do mercado.


Para além da crítica feroz à indústria farmacêutica e aos lobistas de plantão, ‘Dallas buyers club’ sustenta as assimetrias do mundo e enfrenta os limites de peito escancarado. Num primeiro plano, a farmácia despida e dopada. O plano caótico do tempo, imerso na magreza de McConaughey e Leto, esbarra no sentimento facultativo de permanência. A selva de pedra também é um montante de moral. Jean-Marc Vallée joga tudo numa batedeira, questionando sobre o heroísmo do nosso tempo e o pessimismo oportunista escondido em cada esquina.

A atuação de Matthew McConaughey é um estupor. O personagem grotesco, com pinta de herói encontrado bêbado no rodeio, unanimemente tido como perdido desde sempre. O fascínio das cenas, das caras e expressões desabotoadas vai prendendo a respiração, numa entrega irremediável – com o perdão do trocadilho. Jared Leto emociona. Num primeiro momento, o êxtase aparece anônimo: a maquiagem perfeita disfarça. Sua atuação não fica eclipsada por McConaughey. Pelo contrário: Leto se despe soberbamente. E divide a cena.

Sem lamentações, a existência vai no labirinto, perdendo os encontros. Assim, ‘Dallas buyers club’ anuncia e denuncia a vida sobrevivida.

Titulo Original: Dallas Buyers Club
Título no Brasil: Clube de Compras Dallas
Gênero: Biografia | Drama | História
Duração: 117 Min
Direção: Jean-Marc Vallée
Idioma: Inglês
Ano do Lançamento: 2014

Por:  Matheus Rocha 
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