É JUSTO MATAR PARA VESTIR?


Muitos países europeus já proibiram a criação de animais para a produção de peles. Isso provocou um crescimento deste nicho em mercados emergentes, como o Brasil.

Seguindo a tendência mundial para a linha de sapatos e assessórios de inverno, a empresa brasileira Arezzo lançou a coleção Pelemania com peças em couro e detalhes em peles exóticas como a de raposa e de coelho. Mas os produtos não foram bem aceitos pelos consumidores brasileiros, que propuseram um boicote à marca nas redes sociais. A polêmica foi tanta que a Arezzo recolheu as peças com detalhes em pele das lojas de todo o Brasil.

A empresa também foi acusada de apagar posts negativos de clientes na rede social Facebook. A assessora da empresa, Carolie Muzzi, esclareceu ao Opinião e Notícia que foram apagados precisamente seis comentários considerados ofensivos e com linguagem de baixo calão. “A Arezzo tomou para si o direito de manter um nível no debate e apagou os comentários em respeito aos nossos clientes. Em momento algum a empresa pretendeu silenciar os consumidores”, esclarece Caroline.

Mesmo se essa fosse a intenção da marca, silenciar consumidores raivosos seria uma tarefa difícil. Dois dias após o lançamento da coleção, uma página na mesma rede que pedia boicote à marca e às lojas que comercializam produtos com pele animal já contava com mais de 4 mil membros.

Em nota oficial, a Arezzo diz entender e respeitar “as opiniões e manifestações contrárias ao uso de peles exóticas na confecção de produtos de vestuário e acessórios”, mas que não entende como sua responsabilidade “o debate de uma causa tão ampla e controversa”.
Antoniana Ottoni, advogada mestrada em Política e Gestão Ambiental pela UnB e representante da Animal Defenders International (ADI), diz que o uso de peles exóticas no Brasil é algo que pode ser banido imediatamente, uma vez que o nosso clima não pede estes materiais no vestuário.

Ela argumenta ainda que as peças com peles exóticas causam mais repúdio por não se tratar de utilizar a pele como subproduto, mas de exploração animal. Já o couro bovino e ovino são aproveitados de um animal que foi criado para a alimentação. “A produção de peles custa o sofrimento de muitos animais para alimentar a indústria da moda, que tem alternativas sintéticas para a fabricação destes mesmos produtos”.

A advogada argumenta que os métodos para se obter o material são cruéis, como a eletrocussão anal, marretadas e outros processos que provocam apenas o desmaio do animal, que pode acordar enquanto é depelado. Antoniana diz que se as pessoas passassem a consumir conscientemente, muitos destes produtos não encontrariam mercado. “A maioria das pessoas não conhece o processo para a produção de bolsas, casacos e outras peças. Os designers, que ditam a moda com peles, precisam assumir sua parcela de responsabilidade pelo sofrimento desnecessário a que estes animais são submetidos”.

Muitos países europeus, como a Áustria e Inglaterra, já proibiram a criação de animais para a produção de peles. Isso provocou um crescimento deste nicho em mercados emergentes, como o Brasil. No sul do país as fazendas de produção de pele de chinchila estão crescendo vertiginosamente e já são o principal fornecedor da China e da Europa. A pele é praticamente toda exportada, uma vez que não há mercado no país para casacos, por exemplo. Há um projeto de lei na Câmara dos Deputados — a PL 5956/2009, que pede o fim da criação de animais com este fim no país.

A advogada argumenta ainda que para a produção de um casaco são necessários 200 chinchilas e que o dinheiro proveniente deste produto não vem para o Brasil, já que o valor agregado do produto fica na Europa ou na China, que compram a pele in natura.

“Não há desculpas para aceitar as garantias da indústria da moda referente aos valores financeiros movimentados, este é um assunto de responsabilidade pessoal.O abate é feito para alimentar a luxúria humana”, finaliza
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